sábado, 19 de fevereiro de 2011

FALLOUT III - ANÁLISE

Fazer uma análise de um jogo como Fallout 3 tem um gosto agridoce. A melhor maneira de explicar a obra em toda a sua vastidão é sentar em uma mesa - com muitas comidinhas e bebidinhas - sem hora para ir embora, e sem se incomodar quando o sol nascer e forçar uma luz incômoda pelas frestas da janela. Afinal, apesar desta edição da ROX estar recheada de jogos que nos convenceram (e olha que a gente é chato à beça) um game como esse não aparece sempre. Na verdade, a Bethesda tem experiência em pegar os jogadores pelas ancas, como demonstrou em Oblivion. Porém, apesar de contar com muitos dos elementos que fizeram o novo clássico entrar nas listas de mais vendidos, Fallout contém uma dinâmica única e atual, uma história convincente e um sistema de lutas incrível. Mas calma, não vou colocar a carroça antes dos bois. Vamos do princípio: o seu nascimento em um mundo pós-apocalíptico.

A idéia de o título abrir no momento em que seu personagem vem ao mundo é simplesmente genial e promove um vínculo com o protagonista de forma absoluta. É você quem escolhe como quer ser – inclusive, pode determinar o sexo, o que deixa jogadoras, como eu, (e alguns homens) bem mais felizes – com um sistema de criação de personagens que passa por complexidade dos traços, tipos, formas e cores, assim como você viu em Oblivion. É seu pai quem explica como dar os primeiros passos, ajuda nos momentos difíceis, como suas provas escolares e te presenteia com a sua primeira arma. Quer dizer, o cara é legal demais e não tem como você não gostar dele. Ainda mais com a dublagem intensa de Liam Neeson (o Qui-Gon de Star Wars). Você repara, a todo minuto, que se encontra em um lugar muito fechado e pesadamente regrado. Por um instante, há a sensação de que seria possível se acostumar com uma vida enclausurada, mas seu pai foge do local deixando para trás um recado nada esclarecedor e muitos policiais na sua cola.

Início genial
Chega a hora de enfrentar a vida e escapar, tentar encontrar seu pai e descobrir o que aconteceu, afinal. A primeira vez que você vê o mundo de verdade pode ser comparada aos primeiros passos de um bebê frente a areia fofa e um oceano enorme pela frente: é absolutamente assustador e sedutor, ao mesmo tempo. Tudo é tão grande que intimida por alguns minutos, mas tudo bem. Depois, você começa a reparar na paleta de tons de marrom e cinza e percebe que Washington D.C. não é nada parecida com o que você viu na internet. Alguns pedaços estão por lá, uns loucos tomaram conta de construções quase inteiras, mutantes e cachorros malignos passeiam pelos escombros. E você, ali, no meio disso tudo. Claro, o jogo diz mais ou menos pra onde você tem que ir, caso prefira, ou explorar fica por sua conta.

VATS pra que te quero
Explorar, no caso, não é tarefa nem um pouco fácil. Adicione umas cem horas a mais no seu calendário se resolver passar por todos os lugares. Isso se você não morrer, algo quase impossível, considerando que os inimigos atacam sem piedade. Porém, com um pouco de conhecimento das ferramentas do jogo, o desafio passa a ser mais recompensador. E, para ser bem sincera, não tem como escapar das lutas, por mais que você ame personagens do tipo sorrateiros. Lembra que em Oblivion bastava usar bastante uma habilidade para ganhar pontos de experiência? Pois é, aqui eles são recompensados somente em batalhas e missões. Mas, para quem curtia o sistema, boas novas: tudo que foi revisitado ficou melhor. Você pode escolher habilidades muito incríveis quando passa de nível, alocar seus pontos e comandar o sistema VATS.

O VATS é uma das melhores mudanças do sistema normalmente usado nos games da Bethesda para Fallout. Basicamente, você pode pausar a ação e definir onde quer atirar. Acertar a cabeça dá pontos extras. Se mirar nas pernas, seu oponente pode ter problemas em andar. Com um tiro certeiro, você pode arrancar a arma do inimigo e assim por diante. Os ataques ainda ganham um bônus por rolarem em uma ação mais lenta e cinematográfica. Cada ação do VATS usa Action Points, que são restituídos automaticamente, mas de forma meio lenta. É mutilação mais divertida e certeira.

Um pouco cá e acolá
Outro avanço em relação ao sistema de Oblivon é a tensão. Acredite, há muito mais em Fallout 3. Primeiro porque seguir os passos do seu pai já seria complicado em um mundo tradicional, imagine então em um ambiente abarrotado de mutantes e aberrações genéticas. Depois, porque você pode se tornar uma delas se não tomar cuidado. Por exemplo: a água e a carne de animais que você matou pelo caminho podem recuperar sua vida, mas todas elas agregam um valor de radiação ao seu corpo. Mesmo que você não coma ou beba, basta passear nessas áreas por algum tempo para ganhar uma doença. Por isso, além das missões, milhões de coisas para se fazer e monstros, você ainda tem que tomar cuidado para não virar mais um terrível produto radioativo mutante.

Sobreviver exige mais do que habilidades físicas, mas decisões morais. Uma situação de estresse pode transformar o mais supimpa dos caras no rei do sarcasmo. Algo como aquele episódio do Pateta em que quando ele entra no carro se transmuta em um alucinado ao volante. Como você agiria numa situação dessas? Roubaria? Mataria qualquer um? Daria respostas intransigentes? Bem, tudo está disponível, mas com conseqüências. Você pode até explodir uma cidade, mas não imagine que possa se safar disso sem maiores problemas. Não, não: você gera karma. Que pode ser positivo ou negativo e vai influenciar na história, no final do jogo e até nos tipos de habilidade que você pode usar. O lance é que o roteiro é tão bem escrito que dá vontade de tentar ser tudo de uma vez só. Lembra aquelas cem horas que eu falei? Talvez sejam mais.

Agora, se você é daqueles que não gosta de se sentir perdido ou confuso, tudo bem. A história principal é muito boa e tem um pulso firme para te levar do começo ao final do jogo sem cansar. Mais ainda se trata de um RPG complexo, então, não espere debulhar a partida em poucas horas.

São esses pequenos detalhes que fazem de Fallout 3 um jogo genial, para qualquer tipo de pessoa. Com um balanceamento perfeito entre ação e história, um mundo massivo para explorar e se perder, o game beira a perfeição. O seu único defeito provém da animação dos personagens, que é um tanto morta e sem inspiração, provavelmente a única esquisitice mantida de Oblivion, o que também a faz ficar um tanto datada. Mas, não podemos crucificar o trabalho de uma equipe excelente, nem esquecer os 350 milhões de acertos por conta de um errinho meio bobo e quase imperceptível. Navegar em terras devastadas nunca foi tão interessante e vivo. Fallout 3 remete a um conto extremamente humano, frente a mutações e um mundo fantástico e cheio de piadinhas. Daqueles jogos que valem cada uma das horas de jogatina investidas.

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