Desenvolvida pela polonesa Techland, a série Call of Juarez não é exatamente o exemplo de trilogia bem sucedida. O primeiro era um jogo medíocre pelo baixo orçamento, mas contava com ideias boas. O segundo, Bound in Blood, se saiu um tanto quanto genérico e pouco criativo, mas era divertido em sua simplicidade. Já o terceiro, The Cartel, é o tipo de jogo que tenta inovar em tudo, mas falha por falta de acabamento e capricho em sua ideias originais. Ao contrário de Call of Duty, a passagem para o conflito moderno trouxe mais problemas que benefícios para Call of Juarez.
Western drożdżówka
A época do faroeste se foi e The Cartel leva a série Call of Juarez aos tempos modernos, quando os conflitos na fronteira dos Estados Unidos com o México não envolvem o gatilho mais rápido do oeste, índios e vaqueiros, mas sim imigrantes ilegais, traficantes de drogas e policiais marrentos. No caso, os protagonistas deste jogo se encaixam no terceiro grupo.
O personagem principal é Ben McCall, detetive da polícia de Los Angeles e descendente distante do padre pistoleiro dos outros jogos. Em suas investigações, ele trabalha junto com Eddie Guerra, do DEA; e Kim Evans, do FBI. A personalidade de todos eles é um pastiche dos clichés de filmes e séries policiais dos Estados Unidos. Os diálogos genéricos e o roteiro óbvio são nada interessantes, mas de alguma forma conseguem levar o jogador até o fim da história. E para quem assistiu muitos filmes do tema nos anos 80 e 90, toda essa atmosfera causa um saudosismo até bacana.
Assim como nos outros jogos da série Call of Juarez, o enredo envolve uma aliança frágil entre personagens com interesses diferenciados. Cada um dos agentes envolvidos conta com seus objetivos particulares em cada missão, além da meta comum de todos. E esse detalhe, que poderia servir apenas para enriquecer o roteiro, é aproveitado na jogabilidade de forma criativa.
Nas fases do jogo, os agentes sempre trabalham juntos para cumprirem um objetivo comum, mas além disso cada um deles conta com ocasionais interesses secretos que precisam ser concluídos às escondidas dos colegas. Quem conseguir cumprir esses objetivos ganha recompensas especiais e quem flagra o aliado tentando realizar sua missão secreta também. Isso funciona até bem no modo cooperativo, em que até três jogadores jogam juntos. Mas quando a I.A. controla os aliados, simplesmente não funciona, já que eles nunca tentam cumprir o objetivo secreto e não param de seguir o jogador.
Call of Juarez: Modern Warfare
Assim como seus antecessores, The Cartel é um jogo de baixo orçamento com grandes ambições. Mas aqui a falta de acabamento e capricho no jogo conseguem estragar qualquer possibilidade de um desempenho acima do medíocre. Além de montes de bugs estranhos, como missões com direções erradas, legendas sem sincronia e menus que não funcionam bem, o novo Call of Juarez compromete todas suas boas ideias com falhas marcantes no que poderiam ser pontos positivos.
O que mais incomoda é a inteligência artificial. Esse quesito nunca foi o forte de Call of Juarez, mas com o estilo de jogo diferente de The Cartel, aliados e inimigos controlados pelo computador parecem especialmente idiotas. Existem, por exemplo, momentos nas missões em que é preciso assumir o volante em uma perseguição policial, o que é interessante quando os outros agentes envolvidos são controlados por humanos, mas um desastre quando agentes controlados pela inteligência artificial estão no comando. Ele são tão incompetentes que conseguem quase sempre estragar o objetivo, o que resulta em frustração e missões extremamente chatas.
O problema se estende ao lado do inimigo, e o comportamento previsível dos personagens controlados pela IA consegue atrapalhar boa parte da experiência de shooter de The Cartel. Controlados por uma inteligência artificial que parece mais limitada que a dos adversários de Doom, os inimigos raramente fazem algo inesperado ou variam seus scipts. Uma vez que se pega o jeito de como liquidar os adversários, fica tão divertido quanto marcar gols com cruzamentos em FIFA 2001 ou vencer o primeiro Mortal Kombat apenas com voadoras. Basta repetir o mesmo padrão apelão para ganhar sem o mínimo de desafio.
Além da campanha padrão, The Cartel conta com um vergonhoso modo multiplayer competitivo que repete todos os bugs e a falta de acabamento do restante do jogo, com o agravante de que aqui a falta de criatividade torna-se um problema ainda maior. São os mesmos modos de jogo de qualquer FPS multiplayer, mas piores em quase tudo. Naturalmente, acrescentar algo assim em Call of Juarez é uma forma do jogo se adequar ao padrão dos shooters modernos, mas neste caso serviu mais para aumentar as queixas em relação do desleixo da produção.
Call of Juarez: The Cartel é o pior jogo de uma série que já era conhecida por jogos bem medíocres. A ambientação nova poderia ser interessante, mas o roteiro cliché e os diálogos pouco criativos estragam essa possibilidade. Já as ideias mais originais, como os objetivos paralelos e o jogo cooperativo são arruinadas por uma inteligência artificial precária e falta de capricho. Alguns podem até gostar de uma ou outra coisa em The Cartel, mas um gênero tão saturado por jogos bem produzidos como o de tiro em primeira pessoa certamente pode oferecer opções melhores.