quarta-feira, 9 de novembro de 2011

ANÁLISE: Battlefield 3

A guerra do novo Battlefield não é contra terroristas ou exércitos norte-coreanos. Este ano a EA e a DICE decidiram que o inimigo é o mercado e ele se chama Call of Duty.

Battlefield 3 é um jogo que, pela primeira vez na série, valoriza o modo para um jogador como item primordial (ocupa um DVD inteiro na versão de Xbox 360) e, para isso, busca inspiração em seu principal rival. A campanha aqui tem todo o drama, soldados desesperados e pirotecnia de Call of Duty, mas é ainda mais limitada que o concorrente, e muito inferior no enredo.

Mas no que era a verdadeira personalidade da série, o multiplayer, Battlefield 3 felizmente é bom como nunca.

Obedeça seu superior, sempre

Se no primeiro Battlefield o foco era todo no multiplayer e nem havia campanha para um jogador, Battlefield 3 é uma clara tentativa da EA e DICE de anular as principais vantagens do concorrente Call of Duty. O jogo traz um modo de um jogador que é exatamente o oposto daquilo que sempre caracterizou a série, trocando a liberdade de vagar por um cenário aberto para um combate linear e dramático, próprio do concorrente.

Durante a campanha o jogador não conseguirá fazer muita coisa além de seguir seu oficial até certo ponto, matar um número determinado de inimigos e avançar para outro lugar recheado de oponentes, repetindo a mesma estratégia. 

Para se ter uma ideia de como o título segura as ações do jogador, em uma das fases iniciais em que é preciso pilotar um caça, a DICE limitou o uso do avião de combate transformando toda a ação em um simples “rail shooter”. O jogador não pilotará o avião e acabará restrito ao lançamento de mísseis e o disparo das metralhadoras. Para mostrar as semelhanças com CoD basta lembrar de uma das primeiras fases de Modern Warfare 2, quando um NPC dirigia uma Humvee enquanto o jogador era responsável pela metralhadora.

Battlefield 3 ainda repete o maior erro do jogo que o inspirou no modo de um jogador. Ele é repleto de scripts que criam cenas de guerra impressionantes, porém limitam a jogabilidade. Pouco importa se o jogador é bom de mira aqui. Seu sucesso é uma questão de seguir o que o jogo pede para ser feito e atingir o “checkpoint” para iniciar a próxima sessão cinematográfica.

Para um jogo que se promoveu o ano todo como aquele que iria revolucionar o gênero, ter as mesmas limitações do concorrente, e ser ainda pior nelas, é uma decepção.

Preparar, apontar: Fogo!

Visualmente Battlefield 3 cumpre com o prometido e traz cenários vastos, ótimos efeitos de luz e partículas e cenas épicas como prédios inteiros que caem diante do jogador.

A movimentação do personagem está mais natural e supera os outros FPS que estão no mercado. Rastejar, pular ou cair de determinadas altura cria movimentos interessantes como apoiar as mãos no chão ou balançar o fuzil enquanto se perde o equilibro pulando um muro. Estas pequenas ações mais humanas são detalhes que enriquecem o jogo e tornam o cenário de guerra ainda mais realista.

A Frostbite 2 deu um avanço considerável quando o assunto é destruição e objetos agora explodem com realismo surpreendente. Se antes uma porta poderia vir abaixo, agora um andar inteiro pode tombar. Coisas pequenas, como como muretas ou caixas de contenção também podem se despedaçar no tiroreio, portanto nenhum lugar é totalmente desta vez.

Infelizmente, o sistema ainda gera a velha confusão do que pode vir abaixo ou não. Um muro é destruído com um lança foguetes, mas um contêiner de ferro frágil pode continuar imaculado durante um tiroteio.

Amigos unidos contra todos

O multiplayer é o que realmente separa Battlefield 3 dos seus concorrentes. Diferente de Call of Duty e suas batalhas urbanas sempre em pequenos cenários, o jogo da DICE contém fases enormes e bem distintas, mudando muito a paisagem de uma batalha para a outra. Outra característica da série são os veículos e aqui eles estão bem servidos. Além dos helicópteros e dos caças, o soldado terá a sua disposição tanques, blindados, anfíbios e jipes. Estas peças do arsenal são as responsáveis por diferenciar um simples confronto de uma verdadeira guerra.

Se já demorava um bom tempo para aprender a controlar o helicóptero, um caça super-sônico torna tudo ainda mais difícil. E como o jogo não permite treinar o uso de aviões em nenhum momento do singleplayer, o aprendizado terá que ser feito no modo multiplayer. Ou seja, muitos soldados vão se acidentar caindo de avião e as reclamações sobre a dificuldade de pilotar os veículos se repetirão.

No modo Rush os times precisam defender e atacar alguns pontos estratégicos e, à medida que os adversários vão cumprindo seus objetivos, outros pontos mais distantes vão abrindo. A proposta é a mesma de M.A.G. para Playstation 3 e, embora o mapa estivesse aberto desde o início permitindo o ir e vir de soldados, a situação agora força os jogadores a se manterem próximos, trabalhando em equipe. 

São mapas surpreendentemente grandes quando comparados aos de outros jogos. Para se ter uma ideia, as equipes podem começar a batalhar em uma colina, pular de paraquedas de cima de uma montanha, continuar combatendo dentro de um túnel em construção e acabar na propriedade privada de uma fábrica, tudo na mesma partida.

Os cenários variados vão desde um deserto no oriente médio até as belas e ensolaradas planícies próximas ao mar Cáspio, passando por estradas na beira da praia e um ataque as estações de metrô em Paris. Esta diversidade de formações geológicas, construções e climas possibilitam diferentes estratégias de combate usando o cenário ao seu favor.

Outro fator positivo que deve ser lembrado sobre o desenvolvimento das fases diz respeito ao equilíbrio no campo de batalha. Tanto quem defende quanto quem ataca tem a mesma chance de vitória graças à harmonia dos terrenos. Se defender um terminal de computador dentro de uma antiga usina parece fácil graças às edificações da base, meia dúzia de granadas e lança foguetes colocam tudo abaixo, mudando drasticamente as opções de defesa. Com variáveis assim, trabalhar em equipe é uma ordem em Battlefield 3.

Em meio a esse mar de possibilidades online existe algo negativo: o jogo não é para amigos. Os sistemas de “Quick Match” e “Squad” falham na tentativa de identificar jogadores que querem disputar as partida em equipe. Antes de começar uma batalha, os quatro amigos podem formar um grupo, porém isso não é garantia de que eles irão jogar no mesmo esquadrão. O sistema não busca partidas com capacidade para quatro no mesmo time e obriga o líder do pelotão a efetuar uma procura manual nas salas com espaço para os quatro amigos. Se tudo isso não é suficiente para estragar a noite, ainda existe uma enorme possibilidade de que os soldados virtuais acabem em times diferentes, divididos pelo sistema automático de balanceamento do server, que transforma amigos em rivais.

O jogo também tem um modo cooperativo que funciona nos mesmos moldes do Special Ops de Modern Warfare 2. As fases têm uma dificuldade elevada quando comparadas com a campanha convencional e divertirão por criar situações engraçadas que sempre surgem em jogos de equipe. Infelizmente, a produtora disponibilizou apenas seis fases co-op e deverá vender outras por DLC.

Battlefield 3 vale pelo que a série sempre teve de bom: o modo multiplayer. A ideia da DICE de clonar seu concorrente no modo de um jogador rendeu um jogo sem personalidade, limitado e previsível demais, embora visualmente espetacular. Já o multiplayer traz a essência das grandes guerras, com fases imensas, diversos veículos para serem guiados e um sistema gráfico mais realista, que deixa o jogador realmente imerso no combate. O modo cooperativo, por sua vez, rende boa diversão, mas é bastante curto, com apenas seis missões. No final das contas, a DICE conseguiu evoluir naquilo que sempre fez bem feito, e toda sua preocupação em desbancar Call of Duty acabou sendo apenas uma grande homenagem a ele, ou quem sabe uma brilhante jogada de marketing.

Fonte: OuterSpace

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