sexta-feira, 2 de setembro de 2011

ANÁLISE: Catherine

As diversas montagens nos trailers do jogo, com conteúdo extremamente sexualizado e violento não poderiam ser mais enganosas a respeito do que Catherine apresenta.

E isso é uma boa notícia.

Virtualmente, durante toda a produção do jogo, os trailers apresentados traziam cutscenes que apontavam para um jogo que explorava a sexualidade dos personagens, mesclado com algumas cenas evidentemente violentas e surreais, sem permitir que o jogador tivesse uma idéia do que se tratava.

Na verdade, Catherine é um jogo de quebra-cabeça permeado de um “enredo” que os justifica. Faz parte, assim, dessa nova safra de jogos que procura integrar jogos abstratos, especialmente de quebra-cabeças, com uma história de pano de fundo ou combinado a elementos de outros gêneros, do qual Puzzle Quest, uma mistura de RPG e “Bejeweled” é um dos melhores representantes.

No caso, Catherine conta a historia do protagonista, em um momento decisivo de sua vida, precisando tomar decisão à respeito de se casar com uma namorada de longa data, compatibilizar isso com o novo emprego, a falta de dinheiro, a perspectiva da namorada estar grávida, e, para complicar tudo isso, uma enigmática amante que surge após uma noite bebendo sozinho no bar.

 

É evidente, portanto, que se trata de um jogo para adultos. E tudo isso sem ter o conteúdo sexual (apenas algumas cenas mais sensuais) ou apelativo que os trailers e screenshots do jogo sugeriam.

Para complicar o meio de campo, há uma onda de mortes misteriosas de homens suspeitos de terem traído suas mulheres, que morrem durante o sono.

E é aqui que aparece o quebra-cabeça. Toda noite o personagem principal enfrenta o pesadelo da maldição que está fazendo os jovens homens morrerem, e o pesadelo é apresentado na forma de um quebra-cabeça tridimensional composto de blocos que desaparecem sob os pés do personagem. O objetivo, sempre, é o de chegar ao topo sem cair, ficar preso entre os blocos ou ser pego por algumas das armadilhas apresentadas.

 

Pode parecer trivial, mas a forma como o jogo consegue transformar o quebra-cabeça em algo intrigante, integrado à história, com uma estética de terror e constantemente mais desafiador (exponencialmente mais complicado a cada nova fase) é capaz de apreender a atenção mesmo daqueles que não são tão adeptos do gênero.

Paralelamente à solução dos quebra-cabeças, o jogo inteligentemente integra elementos interativos no enredo para o jogador, que pode tomar decisões a respeito de como o personagem reage à situação envolvendo sua mulher e a estranha amante, que são avaliadas dentro de um “compasso moral”. Esse compasso responde às ações do jogador e também às respostas que dá sobre relacionamentos durante o jogo. Não se trata de mera perfumaria, já que as respostas alteram a reação do personagem à situação de jogo e modificam naturalmente o final da aventura.

 

Catherine consegue a extraordinária façanha de contar uma história adulta sem cair para a visão adolescente dessa vida adulta ou para a pura apelação e integrar elementos de história interativa com o componente de quebra-cabeças, com uma primazia que nenhum game até agora foi capaz, tornando-se, assim, único no seu gênero.

É natural, contudo, que a proposta diferente do jogo vá causar estranhamento no mercado consumidor, que não se sentirá atraído para o título. É necessário reconhecer, também, que o nível de dificuldade apresentado pelos quebra-cabeças está muito acima do que um jogador procurando um simples divertimento casual está disposto a enfrentar. Catherine é um jogo que exige paciência, tolerância com os próprios erros, e constante atenção e raciocínio.

 

Quem está atrás de curtição rápida, ação desenfreada e dinâmica de jogo deve ficar longe desse título. Mas para aqueles que apreciam uma história madura e bem contada, um jogo realmente diferente daquilo que já conheceu nessa geração, uma mescla de elementos como poucas vezes se viu, e um verdadeiro desafio ao seu intelecto, não é preciso procurar além.

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